sábado, 6 de agosto de 2011

@round Europe 2011 - Parte 2

Viena a Zagreb – 391 km

A Eslovénia foi uma surpresa agradável, estradas com óptimo piso, e excelentes paisagens. Esperávamos uma mudança radical da Aústria, mas fomos surpreendidos por um ambiente acolhedor e agradável que demonstrou ser um país que ainda sofre com dificuldades económicas históricas, mas faz um esforço significativo por crescerem em comunidade. A simpatia é visível nos seus habitantes surpresos pelo P na matrícula, questionando se vínhamos da Polónia. Quando referíamos Portugal nunca referiram crise ou algo negativo, felizmente não é assim que somos vistos! A chegada à Croácia implicou algum tempo de espera na fronteira e olhar de desconfiança constante por parte das forças de segurança. Chegado ao dito Hotel deparamos-nos com um prédio habitável em que o primeiro piso foi transformado para dormidas de turistas, mas que zelou pela simpatia e bom estado. Zagreb não nos pareceu uma cidade muito amistosa, sentimos-nos afastados daquele ambiente em que tão depressa estávamos sozinhos como nos deparávamos com festas de rua em que animação era a palavra de ordem. Tem muita cultura para ver mas o dia seguinte prometia ser longo…








Zagreb – Lagos Plitvicke – Zagreb – 303 km

Uma chamada no início do dia confirmou que íamos percorrer os lagos Plitvicke com amigos portugueses, pois a Cátia Xavier e o Carlos que começaram a sua viagem por Montenegro também estavam pela Croácia, e aproveitaram o mesmo dia para a visita aos lagos. O sul da Croácia é bem mais calmo, próximo da Natureza, com muitas pensões e restaurantes típicos junto à estrada. Nesta região existem muitos lagos naturais sendo fácil o contacto constante com a Natureza, os parques de campismo escondem-se nos bosques e a vida selvagem abunda. A magia de Plitvicke não deixa ninguém indiferente, as águas cristalinas, a música proveniente das cascatas com a folhagem imensa, molda a nossa visão do planeta Terra, razões pelas quais é património mundial da Unesco. O dia passa rapidamente quando nos sentimos tranquilos e calmos, e enquanto caminhamos pelos trilhos de madeira pelos bosques não nos apercebemos do calor abrasador.







Zagreb a Pádova – 545 km

Os dias são longos mas o percurso até Pádova também e saímos bem cedo de Zagreb, percorrendo algumas estradas rurais da Eslovénia, com destino a Ljubljana. Ficamos encantados pela beleza da cidade, a alegria que se vive nas ruas onde nos cruzamos com povos de todo mundo e com regularidade ouvíamos falar em Português. Estamos na terra dos dragões e identificamos esse misticismo com frequência. O rio Lublianica divide a cidade em dois, e as “três pontes” definem o centro da capital Eslovaca. O tempo escasseia e recorremos a auto-estradas até chegarmos próximo da fronteira Italiana em que optamos por serpentear entre as montanhas até Trieste, cidade portuária com história milenar em que nos rendeu alguns quilómetros a pé entre as ruínas do coliseu até à marina. Seguimos ao pôr-do-sol, junto ao golfo de Trieste, até Treviso onde jantamos comida tipicamente Italiana num ambiente típico e pitoresco. Até ao Hotel foi um “pequeno” salto após um longo dia de viagem.












Pádova a Innsbruck – 316 km

Pequeno-almoço fenomenal acompanhado pelo melhor Mocaccino que saboreamos até hoje, e estávamos prontos para voltar à Áustria, sem antes ir a Verona, cidade que, com perspicácia tornou-se na imagem de Romeu e Julieta. Prima pelo seu coliseu e espectáculos teatrais lá realizados, com uma arquitectura fantástica. As fontes de água fresca eram muito agradáveis e úteis com a temperatura a chegar aos 40º e almoçamos numa esplanada em jeito de despedida das maravilhosas refeições Italianas. A estrada em direcção a Norte é excelente entre vinhas e imensos campos de fruta. Depressa estávamos a mais de 2000 metros de altitude e chegávamos ao primeiro “pass” – denominação para as estradas que atravessam as montanhas percorrendo os vales. Chuva, trovoada e temperaturas inferiores a 10º contrastavam com o calor da manhã, mas nos Alpes estas alterações climáticas repentinas podem ser consideradas comuns. Os edifícios em Inssbruck tem fachadas floridas com pinturas vistosas e clássicas, as varandas sobressaem com formas hexagonais tornando a cidade inconstante, mas que a torna especial.












Innsbruck a Zurique – 491 km

Vales, montanhas, motos, mais vales, muitas curvas e ainda mais motos. Ao percorrer estas estradas, recordo-me da citação do George Carlin que diz: “já reparaste que quem conduzir mais rápido que tu é um louco, mas quem for mais lento é um idiota?”. Um dia de sol, piso excelente e curvas tão fantásticas pensadas em arredondar pneu levam a alguns abusos, isto contrasta com um número elevado de auto-caravanas que percorrem lentamente estas estradas desesperando muitos motociclistas. Novamente em Itália, atravessamos umas boas dezenas de túneis que se alternavam por estradas estreitas com ravinas que deveriam ter centenas de metros… De repente estávamos absolutamente parados, aguardando a aterragem de um helicóptero de emergência, num local que só os melhores profissionais devem ter apetências para tal feito. Aparentemente um acidente de moto obrigou a actuação das equipas de emergência, relembrando que a condução nestas estradas deve ser bastante cautelosa… Já víamos a neve no topo da Stelvio, e começávamos a serpentar nas famosas curvas. O trabalho aqui é dos dois, em que o condutor tem de ter a concentração e perícia necessárias para contornar 180º em estradas de dois sentidos e a pendura participa continuamente, dando informações sobre as restantes viaturas e margens de manobra disponíveis. É um desafio que até parece pequeno quando chegamos ao topo e deparamos-nos com mais de uma centena de motos e muitos ciclistas que ultrapassaram os 2700 metros de altitude. O ambiente é 100% motard, e a sensação de objectivo concretizado evade-nos novamente. Ainda percorremos muitos vales e mesmo assim deixamos muito por ver, os Alpes tem muito para conhecer e aqui não há tempo perdido apenas ficamos com um sentimento de saudade. A noite em Zurique é bastante agradável, e um passeio pedonal junto ao rio permitiu-nos relaxar e esquecermos-nos do quanto industrializada é a cidade.












Zurique a Genebra – 304 km

O melhor deste dia foi termo-nos perdido! Vezes e vezes sem conta! Felizmente insistimos em discordar do GPS e percorremos estradas rurais ao longo de lagos em que os habitantes usufruem das temperaturas amenas de Agosto, quer seja em pequenos barcos à vela, passeando de bicicleta ou simplesmente apanhar sol nos diversos relvados cortados e desenhados com perfeição. Esta é a definição de qualidade de vida, e os Suíços sabem bem aproveitar estes momentos. A capital Bern transpareceu a imagem de uma cidade fantasma num Domingo em que todas as lojas se encontravam fechadas e nem os famosos relógios deixavam a preguiça nas mudanças de hora. Genebra tinha mais vida, muitos Bancos e lojas de relógios com custo superior a 4 dígitos… A facilidade da inexistência de fronteiras permitiu-nos dormir em França com custo bem inferior.








Genebra a Nimes – 365 km

Annecy fica bastante próximo de Genebra e a influência Suiça é bastante forte, quer na arquitectura com diversos canais recordando Veneza ou nas diversas lojas típicas com iguarias dos Alpes que nos despertavam os sentidos, desde os queijos e enchidos aos famosos chocolates deixavam qualquer um com água na boca. Com um dos lagos mais limpo do mundo e temperaturas a rondarem os 40º, a nossa vontade era de usufruir da praia ou em alternativa um relaxante passeio de barco mas já estávamos perdidos no tempo e com sentimento triste de despedida seguimos em direcção a Lyon. O tempo era seco a paisagem árida e triste e já próximos de Lyon, extremamente cansados com o calor e trânsito intenso desistimos da ideia e rumamos para Nimes onde os nossos amigos de Portugal Sandrine e Carlos (Trilho) aguardavam-nos com a melhor refeição das férias acompanhada de uns deliciosos crepes.









Nimes a Andorra – 527 km

A caminho da península Ibérica percorremos pelas longas planícies do sul de França com a belíssima fortaleza de Carcassone como imagem de fundo. Pelos Pirenéus andamos por estradas inimagináveis, com mau piso compensado por excelentes paisagens, em que não nos cruzamos com vivalma durante dezenas de quilómetros. Na chegada ao principado de Andorra notamos o frenesim das compras como se dos saldos se tratassem. Os combustíveis são bastante mais económicos e tudo aqui é relacionado com comércio. 






Andorrra a Saragoça – 358 km

A manhã foi utilizada para passear por Andorra e renovar alguns artigos de motociclismo pois este é o local apropriado para isso, com dezenas de casas da especialidade e em que a língua Portuguesa deve ser mais comum que a Espanhola. Com ritmo calmo e sem qualquer pressa seguimos até Saragoça para um “drive-throught” pela cidade e deitar bem cedo.



Saragoça a Gaia – 854 km

O último dia é sempre o mais perigoso, pela emoção e ansiedade de chegar cedo a casa. É sobretudo nesta altura que temos de conduzir com precaução e manter a velocidade nos limites de forma a garantir uma viagem segura e sem incidentes. Foi suficiente apenas uma paragem para abastecimento e esticar as pernas, e num ritmo constante chegamos a casa com a sensação de dever cumprido. As longas horas deste dia permitem-nos sonhar com as próximas viagens e “projetos”, e retomamos novamente toda a viagem na nossa mente questionando o que ficou por ver ou o tempo desperdiçado.





Conclusão...

Em jeito de conclusão, foi fácil apercebermo-nos que pobreza, miséria, tristeza existe em todo o lado sem exceção. Para mim, Portugal continua a ser o país onde a alimentação é económica e de qualidade invejável! A estadia por cá continua a ser sobrevalorizada para o serviço apresentado e Itália ou Espanha superam-nos neste ponto. São as pequenas vilas que nos surpreendem constantemente e marcam-nos com a sua beleza, gentes ou unicidade. Contrariando o seu propósito, considero que as autoestradas são pura perda de tempo pois o importante nunca é o destino, mas sim a viagem…